quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

o poeta e os homens 4

ser sensível não é compatível com viver

pensando na humanidade
eu perdi o ônibus

olhando pras pessoas que passavam
e sentindo pena
eu não dei sinal

cheguei atrasado
mais uma vez

minha mulher reclamou
e mais de cem vezes
me disse que eu não penso nela

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

poemas de certo amor 4

amar a beleza
é louca empreitada
a beleza não ama 
nada

pobre poeta
que ama a beleza
como sofre 
esse camarada

é que nada do que diga
ou faça
seja verdade verdadeira
ou farsa

a transforma em sua presa
pois beleza não põe mesa
e pior ela um dia
acaba

ela dança com todos
ela dá-se pra todos
ela diz sim pra todos
mas não dorme com ele

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

poemas de certo amor 3

o amor nos obriga a dizer certas coisas

não sei se devo dizer
mas devia
voce é linda

não sei se devo sumir
ou assumir
minha paixão

não sei se devo sonhar
ou assanhar
em busca do que persigo

essa tua leveza
teu desejo e quem sabe
brusca 
a tua paixão

não sei de devo calar
ou simplesmente falar
voce é linda

não sei se posso dormir
e acordar
em busca do que persigo

só sei que devo morrer
ou correr
a maratona na televisão

pra que meu desejo
voce possa notar
e quem sabe anotar
brusca esta eterna paixão

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

poemas de certo amor 2

o faquir

comer vidro
e deitar numa cama de pregos

não dormir
caminhando sobre um rio de brasas

tocar flauta
encantando a serpente encantada

e se você disser que não
morrer

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

poemas de certo amor

o macaco da piada

eu queria apenas te escrever postais
pequeninos simples assim naturais
e que não dissessem muito nada de mais
mas que te provassem que eu não sou dos tias

que não falam
      não escrevem
      não telefonam
      não mandam flores

sábado, 19 de novembro de 2011

letra de música 3

diagnóstico

na prateleira da farmácia
pego o mercúrio cromo
pra passar no machucado
que me lembra de você

ferida aberta que não fecha
corte profundo que não cura
mordida de criatura
dor que se sente e não se vê

pego a gaze esterilizada
para fazer o curativo
me perguntando qual o motivo
desse auê que você fez

a pomada é para as dores
os comprimidos pra vertigem
um bom remédio efervescente
para a minha estupidez

sinceridade dá azia
eu prefiro simpatia
é bem melhor morrer de álcool
é bem melhor morrer de tédio

gruda na pele feito emplastro
essa certeza que envenena
qualquer melhora é impossível
o nosso amor não tem remédio

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

letra de música 2

morro de amores

ali está o Morro do Adeus
onde você disse que me amava
ali está o Morro do Pasmado
onde você me disse adeus

você sempre diz
as palavras erradas
e está sempre certa
nos lugares errados

ali está o Morro da Formiga
onde voce jurou eterno amor
ali está o Morro do Juramento
onde você esmigalhou sua palavra

você sempre diz
as palavras erradas
e está sempre certa
nos lugares errados

são tantos morros nessa Guanabara
tantas descidas por esta cidade
e eu que subi o Morro dos Prazeres
acabei morando no Morro da Saudade

você sempre diz
as palavras erradas
e está sempre certa
nos lugares errados

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

letra de música

pra que roupa?

o meu pé dava um sapato
sensível ao chão
encontrava alguma coisa
macia 
        pisava
encontrava algo duro
pisava não

sapato pisa em tudo

minha pele dava um terno
invisível
           bastava lavar e estava limpo
           nem precisava passar
e aqueles que valorizam as pessoas
por aquilo que elas são
me conheceriam nu

tecido esconde tudo

sábado, 12 de novembro de 2011

poemas sortidos 8

comecei a sentir uma febre
lá pelos trinta
esquisita
            trinta e três

comecei a sentir um calor estranho
e a gostar de
dormir descoberto
e acordava gritando
                           suores
                           noturnos

fui ver a mulher
como me disseram
e ela me disse
isso é coisa feita tem que desfazer
não se explica

voce vai pegar um frango
uma galinha preta
e beber o sangue dela
às três da madrugada
numa encruzilhada
de sete esquinas
e depois fumar um charuto

pega uma galinha preta
escuta o que eu tô te falando
bebe o sangue dela
às três da madrugada
numa encruzilhada
de seis ou sete esquinas
e um charuto cubano
você fuma

usa essa medalha
pra te proteger
não tira nem pra tomar banho
que essa tristeza vai embora 

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

terça-feira, 8 de novembro de 2011

o poeta e os homens 3

transitividade

uma velha caminha
em minha direção

passa por mim e
continua velha

eu sigo
no mesmo caminho

domingo, 6 de novembro de 2011

o poeta e os homens 2

circular do tempo

aquele homem que ali vai
sou eu daqui a vinte anos
visto desta janela
por ele há vinte anos atrás

sábado, 5 de novembro de 2011

o poeta e os homens

atravessando o sinal aqui
estou passando por mim
um outro que não conheci

todas as pessoas são eu
nascidas em diferentes datas
morrendo em diferentes espantos
e vidas que não vivi

terça-feira, 25 de outubro de 2011

amaroamor 10

ela gostava
de lagosta

ele gostava dela
mas também
gostava de ostra

a outra gostava
de outras coisas
brilhantes diamantes
e todos esses
presentes de amantes

por causa do advogado
dela ele passou
a comer mortadela
e a ter alergia
a frutos do mar

e a outra que amava
as águas marinhas
partiu
        foi-se
                com ela
a alegria
e os desfrutes de amar

domingo, 23 de outubro de 2011

poemas sortidos 6

horóscopo

Touro : 21/4 a 20/5

momento traumatológico intenso
de fortes vantagens materiais
muita tranquilidade no posicionamento de vênus

na condução de assuntos pessoais
é necessário demonstrações de um envolvimento mais duradouro
regência benéfica com pessoas estranhas
mas não esqueça de apagar o fogo quando sair de casa
todo cuidado é pouco com ciúmes e possessividades

cor café
bem forte

sábado, 22 de outubro de 2011

poemas sortidos 5


MARCO

queimei o castelo
nada restou inteiro
e o mundo paralelo
do qual fui prisioneiro
se transformou em farelo
até que um outro verdadeiro
mundo real e mais belo
tomou o lugar do primeiro

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

poemas sortidos 4

Super-Homem

e era tão fácil inverter o tempo
voar mais rápido que a luz
contemplar o ontem
                   amanhã

acordar sem resfriado
subir no telhado e olhar a cidade
exterminar o mal
e com um simples sopro congelar sorvete

agora sentado na varanda
    já não enxergo tão bem    
a única coisa que me diverte
são as formigas no solo de Marte

há essa dor nas costas que me dá
todas as vezes que levanto a montanha
de manhã
essa vontade de tudo o que não pude fazer
esse desejo de que meus netos
    Jonathan
Clark
Maria    
não pensem que estou mentindo

terça-feira, 18 de outubro de 2011

poemas sortidos 3

poema em 3 dimensões

ah
não há nenhuma razão para pânico
todos os extintores estão carregados
e as janelas de emergência estão abertas 
para o campo verde onde o sol brilha 
e as formigas sonham com os piqueniques de domingo

bem
eu não disse que nada ia dar errado
sempre há uma possibilidade de algo ruim acontecer
casos favoráveis sobre esperanças impossíveis
esta é a frequência com que o caos se estabelece
e nós podemos estar bem no olho do tufão

cu
eu sabia que essa merda ia ser assim
agora
é cada um por si meu irmão
não há mais tempo pra ficar tateando a saída
quem tem pernas boas que corra na frente
o capitão é o primeiro a abandonar o navio

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

poemas sortidos 2



apenas meninos apenas

    apenas meninos

os meninos inventaram a arte
os adultos não poderiam
e outra fonte não seria tão simples

os meninos inventaram a arte
e hoje me convenço disso tudo
que apenas os meninos podem tocar os sonhos
e recriar o mundo

o resto é pura tentativa

    meninos apenas

os meninos quebraram à tarde
os vitrais de uma igreja
cada qual com suas pedras
e uma mira tão certa

que furaram os olhos dos santos
e reacenderam do Cristo as chagas
tão fundas que sentiam pena
numa enorme gargalhada

e os anjos que partem num sopro
por ali empoleirados
morriam por causa da queda
ou do susto que lhes pregavam

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

poemas sortidos

Vênus de Milo

não tem braços
mas tem mamilos

vênus que passa
tem braços
mas não me abraça

vênus que nasce
da espuma
na nuvem vem nua

Vênus que brilha
do olhar armadilha
de mim tão distante

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

estar no mundo 6

completamente absorvido
pelo vivido
como os que não querem morrer

caminho para a morte
pelo caminho     sem sorte    
de tentar viver

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

estar no mundo 5

não tenho sossego
os mortos
vêm e me acordam
todas as noites

beijam os meus pés
e mordem
meu coração ressentido

se está frio
penso que o cobertor
é pouco

quando faz calor
me percorre no corpo
um leve arrepio

estão por aqui
eu sinto
e não vão muito longe

não sabem a felicidade
de nunca mais
existirem

e é certo se dissolverem
antes mesmo de alcançarem
a geladeira

os vivos
me telefonam
todos os dias

para cobrarem
as contas
e contarem as dívidas

me empurram no elevador
quando entram
com aquele cheiro de espelhos

domingo, 2 de outubro de 2011

estar no mundo 4

desde o céu

1.
caem pingos de chuva
ácido 
       acho 
             que cai
aço 
     que me fere a carne
quando passo
debaixo das marquises enxutas
a desviar guarda-chuvas

desde o céu
passa a sombra 
                     de um demônio alado
que me olha em anjo
querubim 
             namora-me
jura-me
ter no amor 
                amor eterno
e agora é livre 
                    já não teme nada
a ira de deus
o fogo do inferno
já não teme nada
treme apenas ao me ver passar
desde a queda
desde o céu

2.
desde o céu
passam nuvens 
                     tantas
tentando tentar
um novo destino
enchem meus olhos
de quando menino
buscando o novo

um ovo
dinossauro faminto
uma busca
uma um fusca 
                   e a outra
                   brusca 
um elefante que assusta
buscam em busca

estarão ensinando aos poetas
a ensaiar a forma
ao homem a ânsia
de transformação?
tão e tantas
tentam em vão
que me deixam tonto
e me mostram tanto
a procurar em vão
e vão
desde o céu

3.
desde o céu
vem um sinal de rádio
uma mensagem em código
conteúdo cifrado
vem quem sabe de lugar distante
planeta errante
galáxia sem mal
alfa centauro 
                  trombeta
trombeta andrômeda
X K 3 X Y Z 0

desde o céu
pulsa o pulsar
envia um ar
um novo ar
a respirar e ser
um novo ser
olhar o sol 
               e ver o sol
olhar o mar 
                e ver o mar
no sal do mar o sol 
                           e só
aquilo que nos diz 
                         o mar
e entender
o que de mais difícil há
o amor e pronto
e o pranto do amor

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

palavras despedaçadas 5


o peito saltando da blusa
daquela menina cafuza
me deixa confuso

como eu olhei atrasado
o peito já estava guardado
com
      fuso
            horario

terça-feira, 27 de setembro de 2011

palavras despedaçadas 4

azul profundo

o mar é como o céu
azul azul azul
o céu é como o mar
profundo fundo fundo
azul profundo o mar
não cobre o mundo
o céu o faz     desde o
profundo mar do Norte
até o profundo mar do Sul    
com seu profundo azul

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

palavras despedaçadas 3

depois de tudo

aquele amor
soçobrou
e só
      sobrou
               o
               só

domingo, 25 de setembro de 2011

estar no mundo 3

exatamente sete horas

são exatamente sete horas
a novela ainda não começou
às onze passa o caminhão do lixo
e recolhe os dejetos do dia

aquilo que só termina
quando os seus restos vão embora
na cozinha não me deixa esquecer
a cerveja que me faz esquecer

costumávamos dar nomes às coisas
e sorríamos com a torradeira Sofia
eu observo o vazio das garrafas
e leio o que estava escrito em seus olhos

são exatamente sete horas
e as explicações que eu não compreendo
não me convencem que o lixo
pode ir embora sem deixar saudades

sábado, 24 de setembro de 2011

estar no mundo 2

jazz

1. a carne crua das meninas de quinze anos pendurada no açougue e o selo certificando a higiene do produto     impresso com aquela tinta roxa     e a luz vermelha pendurada sobre a carne que é pra carne parecer ainda mais gostosa e a gente não sentir o cheiro do sangue que pinga dos buracos e não ver a cor vermelha do sangue coagulado no chão fazendo a sujeira dos meus tênis eu amava e não sabia amar mas continuava tentando 2. aquele monte de informação barata impressa em papel jornal     com aquela tinta que sai na mão     e a gente não consegue digerir tanta notícia antes de tomar café com pão mas tem que ler os mesmos editoriais pra poder dar uma opinião abalizada quando o sujeito ao lado perguntar e o crime? e a crise? e a final? e afinal? eu amava e não sabia amar mas continuava tentando 
3. ele passou manteiga no jornal 
e comeu a notícia
vestiu uma roupa de cama
e saiu nu em pelo por baixo
inventou uma máquina de tirar fotografias 
aonde as pessoas não estão
deu um beijo nas meninas
e nunca mais se conformou com nada
eu amava e não sabia amar
mas continuava tentando

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

estar no mundo

EhDifício Solidão

o quarto é bem pequeno
mas dá pra se viver
tem uma janela pequena
que dá pra gente ver
adiante uma outra janela
de onde um espelho nos olha
mais embaixo outra janela
como num labirinto de espelhos
e cada janela consigo
carrega uma outra janela
do lado direito e esquerdo
e isto é que é o mundo

o mundo é muito grande
mas não dá pra se viver

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

amaroamor 9

amor não serve em limonada

que coisa azeda é o amor
preparei limonada com ele
e ninguém conseguiu beber
é azeda demais
me disseram alguns
é pior que o limão
outros reclamavam
e ela dizia apenas açúcar
açúcar açúcar ainda falta
açúcar nessa limonada
a vida deve ser doce
é coisa que todo mundo diz
mas o amor é azedo
eu acabo de descobrir
pois preparei limonada com ele
em uma tarde tão quente
e era coisa gelada
mas ninguém conseguiu beber
pois o amor é azedo
e não serve em limonada

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

amaroamor 8

parei de pensar no futuro
pra só pensar no amor
e todas as coisas que virão
serão coisas do amor

sorte no amor
cartas de amor
amor à primeira vista
brigas de amor

fazer amor
pelo amor de deus
amor livre
por amor à arte

amor sem fronteiras
depois de quinta-feira
parei de pensar no futuro
pra ganhar o presente

terça-feira, 13 de setembro de 2011

amaroamor 7

agora que estou amando

na verdade
nos últimos dias
tenho tido que ficar acordado

tomando conta dela

   eu antes não dormia
pensando nela
  

agora descobri
que o amor
pode te deixar uma pilha

eu juro que não sabia

   o amor
é uma eterna vigíli
a   

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

homenagem 5

antônio

no escritório
trabalhando
ri 
sério

mas quando está
escrevendo o poema
ri 
sonho

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

homenagem 4

visita a Orides Fontela

a casa de Orides Fontela
está sempre aberta em portas
não há tropeçar nos degraus            pra ninguém
escadas de par em par
absorvem Orides Fontela
sorvendo café com açúcar
no sofá coberto de nuvens

a casa de Orides Fontela
só possui duas xícaras de café
e um móvel que se absolve
na tristeza do olhar de Orides
de um crime que não cometeu
agulhas de tricô fogão de três bocas
as obras completas absorta

a casa de Orides Fontela
tão simples como ela é
conta um conta dois passa quatro
anos e meio que não desmorona
na cabeça de Orides Fontela
suspensa naquele prego
segurando o retrato de Orides          Fontela

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

honenagem 4

um retrato colorido para ana c

o meu sol
e o seu
no céu
são diferentes

o meu é só
o sol
e brilha
ao léu
pra toda gente

o seu é mais
nào é só
um só
que fica
e parte
e brilha

inteligente
destila
pedaços
pequenos
pedaços
no céu
em trilha
partilha

o meu enquanto
parte
ilumina
uma outra
parte

o seu partiu-
se
em sóis
diminutos
sós
poemas
em arte

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

amaroamor 6


louva-a-deuses

os lobos sabem amar
e mordem com seus dentes
na hora de se beijar
a boca de seus amantes
com gosto de vinho

o gesto divino
de arrancar a carne
e beber o sangue
que jorra debaixo dos pelos
do pescoço de seus amantes

salivar mastigar triturar
e provar o gosto
e aprovar o gesto
de estocar a espada
no coração de seus amantes

antes
        no coração
                        antes

e isto também é amor

domingo, 21 de agosto de 2011

amaroamor 5

o amor é um objeto todo feito de palavras

o amor é um objeto
todo feito de palavras
    cada palavra
        precisa
            mente
               colocada
                   revela o amor


do que é feito o amor
você me pergunta
    o amor é feito de palavras
    e outras coisas impossíveis
    são

por isso
quando você ama
se você pega uma palavra
e troca por outra
que já não soa tão bem
pode ser um desastre
e até o fim da nossa vida juntos
meu bem
    o amor desmorona
    como um dicionário
    todo feito de palavras
    sem sentido

grandes cartazes luminosos
anunciam o amor
proclamam o amor
vendem o amor
    a prestações de casa própria
    ou em pequenas prestações
    você pode pagá-las
    o amor é só palavras

o amor é muito simples
:
se você fala A
é O
se você fala O
não é A
é I
se você fala A e O
não é A
nem T
é A e O mesmo
etc


o amor é muito simples
pra quem conhece os códigos
e eles estão escritos
em todas as paredes
talvez com tinta
talvez com mijo
talvez com sangue
talvez sem nada
    em uma letra
    mais bonita que a dos cartazes

o amor é todo feito de palavras
não há nenhuma brecha
nenhum espaço
nenhuma réstia que seja
pra outra coisa
que não seja palavras no amor

fale
fale muito
fale bastante enquanto ama
mas fale as palavras certas
pois
quando vindas das entranhas
abarrotadas de desejo
as palavras ganham um novo sentido
tomam uma nova vida

e se você disser só uma
    quem sabe
        eu serei salvo

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

amaroamor 4

todas as coisas estão
dentro das outras
para ser

a água no gelo
o arrepio no pelo
o uísque
na dor de cotovelo

é
o gelo que se transforma em água
a cor que se transforma em sombras
e o amor que sinto por você

sim
o amor
que brota dentro do meu estômago
do lado direito do pão
que acabei de engolir

simples broto
talo
me dando cala
frios
quando (não muito)
falo

terça-feira, 16 de agosto de 2011

viver entre as gentes 3

uma ave mergulha no mar tentando pegar um peixe 
um peixe pula fora dágua
querendo ser ave

um homem 
mergulhado em pensamentos
pulula 
num oceano de indiferenças

sábado, 13 de agosto de 2011

viver entre as gentes 2

estendo minha mão aberta

para um homem que caminha
em minha direção

mas ele está alerta
e finge que não vê
vira a face e passa depressa

manterei o meu gesto

        suspenso

até que a paisagem
se confunda com a minha mão