definição

minha vida
minha vida é esta veia
saltando do meu pescoço

minha palavra
minha palavra é a verdade
azeda muito pouco

minhas mãos
minhas mãos são guitarras
quarando ao sol

minhas pernas
minhas pernas são plumas
das pontas
das asas do anjo caído

e eu
eu que não sei ser outra coisa
sou um pote cheio
de uma bebida agridoce

meu diálogo com a fiscal da polícia federal

   você acha que esta fivela
vai acionar o alarme
do detector de metais?

   tira tudo

   você fala isso pra todos?

   falo
que sinto
sempre apita

sem título

eu estou cansado
estou lhe dizendo

cansado de dormir
cansado de ficar acordado

só não estou cansado daquele estágio de vigília
que vem antes do sono
que apaga o dia

aquele estado em que escuto a sinfonia
e tenho lembranças de coisas que aconteceram
mas que nunca vivi

aquele momento em que poemas inteiros
passam pela minha cabeça
mas não anoto nada
e tenho um passado sem lembranças
enquanto tento dormir

vampiro

eu ganho um beijo de batom
de bom tom
a marca que está no teu copo 
não é nada
comparada ao que eu queria estar fazendo 
no teu pescoço

tempos(Vielimir-Boris-Augusto-Jorge)juncos

tempos juncos
        na margem do lago
onde as pedras são tempo
onde o tempo é de pedra
        no lago da margem
juncos tempos
desde que o tempo depreda
sentam juntos

tempo do amor

    o amor é isso aí

deixa eu andar sobre as águas
pra você ver
do que o amor é capaz

deixa eu fazer cego enxergar
de manhã cedo curar
e de noite chover

rapaz

sentir tudo o que se pode poder
querer tudo o que se chama querer
e se contentar com pouco

demais

deixa eu chover por não ter mais você
pra aprender
do que o amor é capaz

deixa eu morrer
por não ver mais solução
para o seu problema

rapaz

sofrer tudo o que se pode sofrer
querer tudo o que se pode querer
e não ter a paz

jamais

    Maria Helena Cecília

quando ela ouviu o seu nome
olhou para trás numa fome
de saber logo quem era
não conhecia Ricardo
que sorridente ao seu lado
babava um olhar de paquera
eu sou amigo do Jorge
vem cá escuta não foge
eu te conheço - verdade
Maria Helena Cecília
estou aqui sem família
pra conhecer a cidade

se ela soubesse a armadilha
em que se transforma o amor
dizia meu nome é Emilia
eu sou moça de família
e nao conheço o Sr.

quando ela leu o seu signo
- bonito rico porém maligno -
quis saber logo quem era
não conhecia a armadilha
o amor é assim mesmo minha filha
ah se eu tivesse alguém quem me dera
não fica triste não - fica
no fundo você é romântica
e da vida o amor é o preço
Cecília Helena Maria
estou aqui nesse dia
pro nosso lindo começo

se ela soubesse a tristeza
em que se transforma o amor
dizia meu nome é Teresa
estou sozinha na mesa
mas prefiro esta pizza calabresa
a conhecer o Sr.

   o amor no final

eu bato o tiro de meta
nos pés do adversário

falta apenas um minuto
para o jogo se acabar

eu sou o pobre goleiro
e você é o goleador

entrando na área sozinho
meu deus o que será do nosso amor

fazemos a grande luta
a atração principal

decisão dos pesos pesados
pelo campeonato mundial

estou mais gordo mas técnico
e você é o pegador

mirando meu queixo de vidro
meu deus o que será do nosso amor

descoberta de Ana

se quero encontrar
um lugar sem igual
me visto qual Cabral
e alugo uma nau

aviso a familia
e vou pro litoral
(com olhos de adeuses
todos me dão tchau)

depois de cem dias
a sol                 e sal
vivendo uma calmaria
que até me faz mal

encontro você
que se espraia
em minha vida
meu baú do tesouro

navegar não é fácil
minha mãe irmã filha
mas nós resistmos juntos
como uma ilha

só o amor constrói

eu quis gritar o teu nome
deste outro lado da rua
mas percebi
que o barulho das buzinas
encobriria a minha voz

por isso fiz estes gestos sem sentido

tentei escrever um poema
mas só escrevia te amo
nesse amontoado de papéis
encobertando a lixeira

por isso que gostam de mim
os que recolhem papel
para viver

situação

vou para o poema
com as mãos limpas
nenhuma arma

subo as escadas
de degrau em degrau
nenhuma pressa

viajo para onde
de dois em dois minutos
nenhuma bagagem

tenho contra o mundo
todas as defesas
nenhuma chance

sinais de fumaça

ela fumava
diante do palhaço
(e sorria)
enquanto o circo pegava fogo

ela escrevia seu nome
soltando círculos de fumaça
e a gente
ela ensinava a aprender

ela sabia uma mágica
e desaparecia
completamente-sem-deixar-vestígios

ela abria a porta
sem usar a chave
trazia o céu pra você
sem deixar

(impressões digitais)
ela bagunçava tudo o
que eu levava uma vida arrumando
(e tinha conta em boteco)

letra de música 8

sambei sambei
por vários dias domingos
mas na segunda acordei
com cara de poucos amigos

sonhei sonhei
alguma coisa contigo
mas não me lembro não sei
se era amor ou perigo

sei que algum dia virá
em que depois de sambar
e de domir e acordar
estarás sempre comigo

sai dessa apatia

no fundo dos olhos você tem essa boca que fica me dizendo pra eu ficar calado
enquanto você fala pela outra boca que o que você está vendo não é mais possível

no fundo no fundo dessa tua cabeça pensamentos rasos correm como um rio
desembocando nos olhos
desenfolhando na boca
sinicanalizando o teu sorriso

eu quero olhar tua boca
eu quero morder teu sorriso
que é para ver se você diz alguma coisa que me meta medo
que me faça sentido

......!!!!!!

é melhor colocar os pingos nos is
ou os pontos nas exclamações?

é melhor escrever "entre aspas"
    ou com travessões?    

qual o melhor geito de terminar uma frase?
me diga você que sabe as pontuações

com o grito do ponto final
ou com o silêncio do ...?

ponto

                 .

no meio da página
é um sol
de onde a luz não escapa

no final da frase.
não há mais nada a dizer
eu já não digo mais nada

no telegrama
na ausência do ponto encontro
suas iniciais

repetido três vezes
indica
três vezes o fim...

realista : não
espero nada da queda dos de cima
e da ascensão dos de baixo :

plunct plact zum

perdoar é a mesma coisa que carimbar na sua testa que você errou
uma pessoa que perdoa é como aquele carimbador maluco da música do Raul Seixas
enrola enrola e depois deixa o foguete partir

eu não perdôo ninguém

pedra

a pedra não sabe
a sua cor
pois não tem dedos


não sabe a pedra
o que é o amor
por não ter medo


me olha
há muito mais tempo
que a contemplo


se saberá ainda
pedra quando não sentir
a minha falta

p alto

se for à Grécia
faça como
um alemão
faria
cante
um samba
brasileiro
mora na
filosofia

pois quem vai
tão longe
sempre
vive um sortilégio
aprende
samba
não se
aprende
no colégio

o teu nome em agosto

se mudassem os nomes
quando dobram os ventos
quando traçam os ventos
suas rotas pelas esquinas

o teu nome em agosto
qual seria

se houvesse um jeito
de te mandar um envelope
para a ilha de pedra
no baricentro das milhas

o teu nome em agosto
qual seria

o teu tempo passa muito rápido
o meu se desdobra
o meu se aglutina

se eu soubesse um jeito
de te escrever uma carta
e tatuasse teu rosto
na pele parda do envelope

o teu nome em agosto
qual seria

o começo só se justifica no final

descobri que eu sou mesmo muito bom em inícios nada promissores
na verdade eu posso escrever um monte de poemas um bocado ruins toda vez que me sento para escrever
certamente eu também posso escrever de pé ou sentado poemas que não tem pé nem cabeça e que não prestam nem para embrulhar carne no açougue 
eu não tenho nada contra o jornal que embrulha carne no açougue mas você sabe que os jornais não são bem escritos
isso me faz pensar no tempo em que os jornais publicavam poemas
será que naquele tempo eu poderia escrever um poema razoável para publicar nos jornais

veja só um exemplo do tipo de coisa que eu posso escrever sem pensar
tudo isso eu realmente escrevei sem pensar

chegarei em casa daqui a poucas horas e direi
estou aqui
você saberá que sou sincero
me olhará com um sorriso
e simplesmente
calará a sua voz
a quantidade de coisas que poderiam ser ditas passará por nossas mentes num segundo
mas nós     duas estátuas sonoras     faremos apenas o movimento que fazem o barco e o cais
quando os olhos acesos de quem chega se ascendem ao tocar os olhos de quem espera

eu também tinha escrito no jorro um final
mas depois o achei meio ridículo e resolvi cortá-lo

o homem let

você quebrou minha casca
você tirou minha casaca
para me ver mais claramente
e me dizer
                você não é mole

eu te queria de novo
quebrando a casca do ovo
pra nao fritar minha razão
e amolecer meu coração

mas você sumiu na poeira
e me deixou sem sexta-feira
sozinho na ilha da fantasia
que você iria voltar

sem título

o frio cortante cortava
o meu amor por ti em metades
como uma laranja

e tu chupavas laranjas distraída
sem saber ou querer saber
que a porta do meu barraco era sem trinco