o começo do fim

ainda tem arroz na panela
mas o bife já está frio
você querendo pode esquentar!
te esperei até 11:00 h
mas você não apareceu
tava com sono : fui dormir
quando for deitar
vê se não me acorda

o amor nos obriga a dizer certas coisas

não sei como vou lhe dizer
mas devia
você é linda

não sei se devo assumir
ou sumir
minha paixão

não sei se devo sonhar
ou assanhar
em busca do que persigo

essa sua beleza
seu desejo e quem sabe
brusca a sua paixão

não sei se devo calar
ou escalar
você é linda

não sei se posso dormir
e acordar
em busca do que persigo

só sei que devo morrer
ou correr
a maratona na televisão

pra você notar meu desejo
e quem sabe brusca
a minha paixão

não posso esquecer de ligar para Fábio

o poema e o revólver
ambos de plástico
me esperam em cima da mesa

não há vento nem melodia
que me convença da necessidade
de (apenas) dormir

meu ouvido esquece
a atitude correta
e me suicido com o isqueiro

mmmm

já faz 20 anos que não lhe vejo

já nem me lembro mais do seu rosto

outro dia sonhei com você
era uma mulher sem rosto
que eu não conhecia

em mim nasceu este bigode
em você não sei
talvez uma barriga

há 20 anos que lhe desejo
já nem lembro mais como começou

outro dia passei por alguém
                                        uma mulher
parecida demais com você
                                      na rua
nem sequer me notou

sem título

minha        mente
indefinitiva mente
                 mente
               objeto de mente
                             mente
               objeti va  mente
                                     pra que au mente min
                   ha performance de ator mente 
                                         gradual  mente

marina

sentei-me agora aqui a olhar o mar
mas tudo já está descoberto

a caravela não virá de longe
o monge não escreverá a carta
e o rei não saberá de mim

sentei-me agora aqui a olhar o mar
o céu
e ele é azul de um azul profundo

um homem passa refletindo o mar
e me olha assim feito de outro sal
sem nenhuma beleza me olha aqui
no meu olhar a refletir o mar
e tem a sua própria tempestade 
                                              raios 
                                                     tufão
da qual eu nunca compartilhei

poema concreto

l i n g u a g e m                            p o e m a

                         s o b r e s s a l t a

         l i n g u a g e m            p o e m a

                              a s s a l t a

                l i n g u a g e m p o e m a

                                s a l t a

                l i n p o g u a e m a g e m

                              c i n d e m

                p o e m a l i n g u a g e m

                            i n c i d e m

                 p o e m a        l i n g u a g e m

                        c o i n c i d e m

p o e m a                                l i n g u a g e m                    
l í n g u a                                         p o e m a

                     s o b r e s s a l t a

                 l í n g u a           p o e m a

                         a s s a l t a

                   l í n g u a p o e m a

                            s a l t a

                   l í n p o g u a e m a

                          c i n d e m

                   p o e m a l í n g u a

                        i n c i d e m

                p o e m a        l í n g u a

                      c o i n c i d e m

p o e m a                                          l í n g u a

hoje estou me sentindo meio estranho

hoje fez um sol engraçado
claro e sujo ao mesmo tempo

quero dizer
às vezes aqui no RJ
quando faz um sol de inverno
faz também um ar tão límpido que parece que você pode ver através do dia e entender um monte de coisas que está querendo entender
parece que a descoberta das coisas que você não sabe pode acontecer assim por magia
basta você se esforçar e encontrar o encantamento certo
a palavra certa

hoje fez um desses sóis
mas o ar não estava tão limpo
e eu não sei a palavra

letra de música 7

gestos

tantas palavras por dizer
que não cabiam no olhar
então eu tive que fazer
gestos
gestos pra te conquistar

mandava flores pra você
eu não cansava de ligar
um dia sim e outro também
gestos
gestos pra te segurar

contando os gestos que ja fiz
gestos que foram todos teus
eu percebi que basta um só
gesto
gesto pra dizer adeus

fragmentos

1.

caminhavam
nos jardins deAlgumacoisan'alma
                 simplesmente
                 chora
lugar nenhum
        nenhum
lugar
cada um é
               complexa
                            mente
                                     triste
com a sua história
comédia comedida
a vida como ela é
a vida come a vida
                     tida
                     os dentes da vida
                     roem
                     esmigalham
                     moem
                     torcem a verdade
os casos contados de memória
a verdade torcida
João/Ricado & Eu
a vida come os sonhos
desde o começo
a chuva encharca
            o charco
e as lágrimas no olhar a prometer pro mundo
poesia

e dizem

- somos desconhecidos
- ninguém nos conhece
- mas com o nosso talento

- se você quer ser conhecido
pinta de verde
a melancia
- descreve com o lápis
a forma do ovo
- compreende o inseto
o que te disse
o inseto

2.

eu esqueci de dizer
que foram os barcos
- esta maldita memória -
                     o vai e vem dos barcos parados
                     o ondular das ondas
                     a modelar
o movimento dos barcos
que me fizeram jurar
para João
o amor eterno

à poesia

é importante notar
que a língua é como uma célula
e perceber
núcleo e citoplasma envolvidos em membrana
cabe ao poeta esticar
a membrana até não romper
até que quase se rompa
até perto de se romper
tanto que o homem comum
corra com a caixa de bandeides

é
mas foram os barcos
e os barcos se foram

pra fora da fauna
                         a flora
                         aflora
flor e fruto ainda de uma mesma cera
o fauno comeu a musa
no centro da mesa
e sobre a mesa
a sobremesa espera para ser comida
a freira espera o fauno
e o falo do fauno
e eu falo do fauno e da freira
do falo do fauno e da faina da freira
de rezar
Ela não vê
- quem espera não vê? -
a vida no espelho
sem reflexos ou reflexões
a vida nua
sem cozimentos
a vida crua
sem constrangimentos

porém
ela espera o fauno
e quando sente o calor do hábito
de hábito ela se regenera
e reza
setenta
aves-marias
contra as tentações
e ensaia
a ânsia de encontrar o fauno
e viver as palavras
(de cara a gente se apresenta
apenas as mãos
e se desconhece
por quê não se beija primeiro o sexo e depois a boca
Por que a boca)

eu já te disse
no primeiro momento
que foram os barcos
que foram embora
e embora me levassem embora
me deixaram aqui
a espera do mar
a esperar

3.

Sr. Jorge Petrúcio Viana
chamando o Sr. Jorge Petrúcio Viana
Sr. Jorge Petrúcio Viana
comparecer à recepção
proprietário do Passat placa
LJA1703
cor azul ano 86
comparecer à recepção

Sr. Jorge Petrúcio Viana
é urgente a sua presença
o seu carro está se movendo
quando todos estão parados
o seu carro está ligado
e a chave na ignição
os faróis estão acesos
iluminando a garagem escura
a buzina está tocando
e parece um triste sinal
é urgente a sua presença
comparecer à recepção
O Sr. não devia fazer isso
largar o seu carro ligado

é que quando eu era um menino
correndo pelos corredores do hospital
enquanto os médicos tocavam em minha mãe
eu jamais imaginei
que eu hoje seria um adulto
parado no corredor do hospital
enquanto os médicos tocam em minha mãe

eu queria saber mas não sei

eu queria saber mas não sei
o nome de um gosto de limão
que possuem certos peixes
quando são preparados de uma forma especial

mas não sei
por isso digo apenas gosto de limão
que possuem certos peixes
quando são preparados
de uma forma refinada

lá fora chove
e tampouco sei o nome da chuva
que acabou de cair
como não sabia
o nome da chuva
que caiu na semana passada eu sei

por isso fiquei em casa
aguardando
e não sai para dialogar com a chuva

eu me divirto com as pequenas coisas

pego saúva e gilete
e no parapeito da janela
com paciência e mestria corto
uma
a
uma
as pernas da saúva

cuspo de cima do prédio
sem privilegio de mira
meu escarro se espalha
na cabeça
       nos ombros
              no chão
das pessoas que passam

poema concreto

es
tou
aT
eu

in
tei
ro
dis

por
diz
por
que

vo
cê
não
me

ama
e me
aSS
ma

duas extremidades

no deserto
se pode viver com pouco
se deve viver com nada
pois encontrar qualquer coisa
até mesmo um copo dágua
é extremamente difícil

na cidade
de tudo o que se tem
se quer ainda mais
muito
ainda mais

enquanto no deserto
se pode espiar um cacto
sobrevivendo sozinho
no nada
bebendo areia
e aprender alguma coisa

na cidade
a gente pode olhar as luzes
piscando numa guerra
pra vender refrigerantes
e sentir vontade de matar
pra ter coisas
que nunca serão nossas

letra de música 6

difícil terminar

pra que esperar
acabar
o que já acabou

pra que tentar ainda
remar
um barco que já afundou

por que você
não acredita
que tudo tem fim

pra que fazer
essa fita
de que ainda gosta de mim

quando chega a hora
é melhor
dar o fora

quando a hora vem
é pior esperar
outra hora

é melhor a gente acabar
sem tentar
uns carinhos

pra quando se encontrar
pelo menos trocar
dois beijinhos

diagnose

certas pessoas têm uma psicologia muito complicada
poderia até dizer terrível
por que às vezes são capazes de

certas pessoas nos metem medo
pelo seu comportamento muito complicado
e por isso devem ser evitadas
com o riso de se perder

não se deve evitar uma pessoa
isso não deve fazer nem bem
mas às vezes é uma saída terapêutica

tudo isso é realmente muito chato
e psicologia é uma matéria muito complicada
mas certas pessoas devem ser tratadas
quando têm um comportamento esquisito
e elas não são tão raras no meio

caro Dr. X
lhe enviamos o Sr. Y
que apresenta um quadro de surto
e necessita urgentes cuidados
agradecemos pelo que puder

detalhes tão pequenos

eu desenhava pequenas coisas
todos os dias
sobre as cabeças dos carrapatos

reproduzia cada mínimo detalhe
do mundo
e aprendia a ver as coisas mais de perto
(tão perto que chegava a fazer parte
delas)

mas nem todo desenho é perfeito
veja só o meu rosto olhando seu rosto
do espelho
e seu rosto olhando o meu rosto
do espelho
e entre nós esta maldita parede

correspondências

eu escrevi 1.000 poemas
e as aves têm plumas

não tenho penas apenas
as aves não escrevem poemas

como nós
não possuem antenas
e não sabem nem ver bem ao longe
- apenas mais alto -

nem toda ave voa
mas sabe prever e acerta
o instante em que vai chover

eu não consigo saber

Chet Baker não se compra

eu só sei de uma coisa
nós todos merecemos a paz

por que será que Chet Baker se matou

ele fez aquela música toda
e apesar de fazer aquela música toda
ele sabia que aquilo ainda era pouco
e que farinha não se cheira
e que estrume não se fuma
e que tudo o que ele ganhava ainda não era o suficiente pra comprar a quantidade de heroína de que ele realmente precisava

na frente de um prato
ele pensava em disco
na frente de um pescoço
ele queria um trumpete
e diante do silêncio da noite regado a overdoses cavalares de realidade ele ouvia a música que o tocava
a verdadeira música interior

Chet Baker preferiu a morte
e talvez um dia
deixar que todos reconheçam que na verdade ele era um Nelson Cavaquinho
desconexo

cartão de natal p/ Célia P.

Célia

que neste aniversário
o espírito do Natal
lhe dê de presente
um feliz Ano Novo

que neste Natal
um feliz Ano Novo
esteja presente
no seu aniversário

que neste Ano Novo
você tenha um Natal
ainda mais feliz
que o aniversário presente

cacos

não quebre a janela
do 8º andar
quando pu
              |
              |
              |
              |
              |ar

(abra a vidraça
- que entre o ar -
e pule)

cacos de vidro
podem voar
e te cor/
            tar
             antes mesmo de você beijar
                            o chão
a jugular

belo poema

uma boa noite de boêmia
se mede pela quantidade
de vezes que você riu de verdade
chorou de verdade
ouviu de verdade
perdoou de verdade

uma boa noite de boêmia
se mede pela qualidade
dos conselhos que você deu
pela quantidade de verdades
que havia ali junto da bebida
que você bebeu

uma boa noite de boêmia
se mede quando raia o dia
e você descobre que nem percebeu
que já é um outro dia
pois viveu de verdade
em uma noite de boêmia
uma vida de boêmia

à(Marina-Haroldo-Augusto-Jorge)vida

não não colherás roubarás no meu rosto sem rugas minha cor
vermelha a cor de rio que estua violenta correnteza
sou recusas: és caçador eu não sou preza és caçadora
persegues és a perseguição: eu sou a fuga eu sou a fuga

não não dou minha alma viva não colherás cativa minha alma
colhido acossado em pleno disparo em pleno tropel
curva arqueia o pescoço o cavalo o pescoço e rasga
árabe a veia com os dentes e abre a veia da vida o corcel árabe

alguma coisa sobre a chuva

alguma coisa sobre a chuva

a chuva me acompanha
desde que saí de casa
deve estar querendo dizer algo
mas só fala

p   i   p   i   p   i   p   i
      m       m       m      m
  l       l       l       l
p   i   p   i   p   i   p   i
      m       m       m      m
  l       l       l       l
p   i   p   i   p   i   p   i
      m       m       m      m
  l       l       l       l
p   i   p   i   p   i   p   i
      m       m       m      m
  l       l       l       l
p   i   p   i   p   i   p   i
      m       m       m      m

Alba(Erza) x 1/alba(Jorge)

Alba(Erza)

When the nightingale to his mate
Sings day-long and night late
My love and I keep state
In bower,
In flower,
Till the watchman on the tower
Cry:
     Up! Thou rascal, Rise,
     I see the white
                Light
              And the night
                     Flies'

1/alba(Jorge)

até que o vigia da torre
tenta
     vai canalha levanta
     já vejo a luz que aponta
           e a noite
           espanta

mas meu amor e eu fincamos
surdos
em flor

enquanto o rouxinol à amante
canta o dia errante e a noite entrante