sábado, 7 de dezembro de 2013

sobre poesia 15

da vocação

a vocação me tomou 
de assalto em uma 
reunião de negócios

e eu que nunca gostei
de poesia de repente
senti um frio nos ossos

o meu chefe me olhava
o cliente esperava
minha cabeça sonhava

sol
estrela
mar

eu queria dizer o que 
o chefe esperava falar
o que o cliente queria

mas minha boca liberta 
pra sempre naquele 
momento somente dizia

o sol enamorado
da estrela do mar
se pintou de vermelho
pra ela notar

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

poemas de certo amor 19

eu sou um péssimo amante

ontem por um átimo
teve um orgasmo aquela que estimo
porém eu sei no meu íntimo
que ela não vai dizer que foi ótimo
pois fui eu quem riu por último

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

estar no mundo 17

os gordos vão sendo deixados
o que não causa espanto

não temos como levá-los
eles pesam tanto

movê-los suspendê-los carregá-los
tudo isto é muito difícil

por isto os deixamos largados
alí mesmo onde nasceram ou foram

colocados formando uma barreira
de gordura que nos aquece

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

estar no mundo 16

procuro o que escrever
procuro algo para ler
procuro alguma coisa para fazer

penso na existência humana que se tornou
muito complicada para mim e com a qual
eu não consigo conviver

o livro
o filme
o disco
a realidade é mais interessante
mas já não dá tanto prazer

eu gostaria agora era de ser criança
quando um dia demorava dias
e o ano 2.000 ficava tão longe que eu acreditava que um dia 
o mundo ia se acabar

simplesmente
não aprendi a desinvestir no futuro

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

poemas da caixa de papelão 19

o amor
o que ele fez comigo não está certo
deixou
o meu melhor amigo boquiaberto
quando ele
finalmente conheceu minha mulher

depois
o meu irmão tornou-se em inimigo
já nem
queria mais me ver falar comigo
nem pensar
pra ele agora eu era um qualquer

mas eu
que nessa história não sou o bandido
o procurei
tentando recobrar o irmão perdido
e o encontrei
bebendo e vomitando só em um botequim

Petrucio
ele me disse o destino está errado
pois ele
quando colocou aquela deusa do seu lado
pra sempre
colocou você longe de mim

sábado, 17 de agosto de 2013

poemas da caixa de papelão 18

os restos do amor ficam

o gostinho na boca
o batom na camisa
o perfume no corpo
a pele nas unhas
o pentelho nos dentes
a mancha no lençol
o cabelo o suor a delícia
permanecerão para sempre

os restos do amor ficam

segunda-feira, 29 de julho de 2013

estar no mundo 15

eu sou uma vida 

quando eu nasci 
me deram um tapa 
para eu chorar 

quando eu cresci 
me deram um doce 
para eu parar de chorar 

quando eu morrer 
me darão uma lápide 
para alguém chorar 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

primeiros poemas 9

meus olhos pintados com cores estranhas

a vida não deixa marcas
apenas estes dedos cravados na memória
em mim tudo era perda
tudo era engano
quando deixei estes gestos sobre a mesa
havia um suspiro entre migalhas de pão
e eu me perdi nas estradas

no cais apenas um adeus
há que me escapar das mãos como uma pomba líquida
          meus olhos pintados com cores estranhas
          estou só
sem esforços poderias mulher tão negra
de alma e de olhos me beijar a face
          estou nu
          mas tu
          há quanto tempo te consome a vergonha

o homem é uma mácula nos gestos brancos de deus

quinta-feira, 30 de maio de 2013

primeiros poemas 8

poema da infinita esperança

nesta rua nesta rua
tinha um bosque
hoje só existem arranha-céus
pessoas amarelas
e cãezinhos tristes

se esta rua se esta rua
fosse minha
eu mandava demolir todos os arranha-céus
e plantava 300 árvores no lugar

sobre o morro sobre o morro
tem um cristo
que passa os dias todos de pés descalços
de camisola
de braços abertos
e de cara amarrada
filho de uma lavadeira
o povo diz que faz milagres

se nos olhasse o cristo
por um segundo que fosse
nós também seríamos felizes morena

terça-feira, 21 de maio de 2013

poemas da caixa de papelão 17

paixão

eles viram meu corpo
preso num crucifixo
e os grandes cravos em minhas mãos

e eles disseram este corpo
tem o mesmo fim amargo
que teve o corpo do Senhor

eles beberam meu sangue
transbordando sobre o vinho
no terceiro dia da paixão

e eles disseram este sangue
tem a mesma cor amarga
que tinha o sangue do Senhor

eles comeram minha carne
dividida entre eles
e multiplicada como o pão

e eles disseram esta carne
tem o mesmo gosto amargo
que tinha a carne do Senhor

eles ouviram meus gritos
meus pedidos e minhas súplicas
e eles nada disseram

e eles nada fizeram
e eu tive a mesma morte
que o Senhor

domingo, 12 de maio de 2013

poemas da caixa de papelão 16

Gregório

Gregório
era um irmão do Libório
que trabalhava num escritório
e ganhava um salário satisfatório

Gregório
amava a filha do Osório
moça bonita de andar vexatório
assunto de todo e qualquer falatório

Gregório
e a tal moça num oratório
trocaram juras de amor compulsório
e se casaram na igreja e cartório

Gregório
otário
vivia aéreo
mergulhado num delírio
de ciúme espúrio

Gregório
num redemoinho giratório
matou a moça no introdutório
enquanto ela amava João Tenório

Gregório
que preso não foi ao velório
descobriu de modo notório
que o amor é puro palavrório

domingo, 14 de abril de 2013

sobre poesia 14

fazer é fácil
fazer bem é difícil

tecer é fácil

mas tecer a teia 
que não rompe ao vento 
e balança o sino 
quando o inseto pousa
esta é uma tarefa da mais fina engenharia

domingo, 7 de abril de 2013

poemas de certo amor 18

bocas podem ser fatais
bocas podem ser lindas
demais
vermelhas
como cerejas
bocas podem sorrir

mas elas também sabem mentir

dentes podem ser brancos
dentes podem ser polidos
caninos
molares
incisivos 
bonitos como os olhares

e às vezes também mordem vorazes

sexta-feira, 5 de abril de 2013

escrita automática 11

p numa hora destas

quem foi que peidou
foi você quem peidou
fui eu que peidei
me mostra a tua mão amarela

quem deixou a tampa da latrina aberta
quem foi ao banheiro e não deu descarga
quem deixou esse poema escapar

eu te disse Mauricio
que quando fosse botar comida para o poema
tomasse cuidado
que o bicho é arisco

ele passa na grade da gaiola
ele bica tua mão
ele sai pelo ar
peidando poesia

quinta-feira, 28 de março de 2013

sobre poesia 13

ins-piração

eu só
escrevo
sob pressão
se você
não cocar
essa arma
na minha
cabeça
eu juro
que largo
tudo
e vou
embora
você não vai
querer se sentir
culpada
vai
então
abre esse troço
canivete suíço
sei lá
que você carrega
e que já serve
pra tanta coisa
e encosta
na minha
têmpora
o lado que
dispara
pra ver se os 
miolos temperam 
e eu contigo 
escrever um poema 
consigo

quarta-feira, 27 de março de 2013

poemas de certo amor 17

faço você

eu faço você
quando fecho os olhos
e invento comidas que estão
muito além dos paladares educados

eu faço você
quando coloco veneno para os ratos
e fico imaginando de que formas
a vida pode driblar as tenazes

eu faço você
quando me tranco no quarto
escuro em que me prendia meu pai
e canto um blues ao contrário

eu faço você
por gostar do seu gosto
e querer sua mão segurando o meu pau
quando abre o sinal

sexta-feira, 8 de março de 2013

poemas de certo amor 16

eu sou um banana

às vezes 
eu quero só

beijar-te 
nalface

às vezes tão romã
ntico eu sou

que esqueço
de tomar-te

que esqueço 
que você

gosta mais 
de verdura

quarta-feira, 6 de março de 2013

poemas da caixa de papelão 15

aquele parto que tive
de onde não nasceu nada
não foi parto doído
aquele parto

cusparada

aquela tristeza que tive
quando ainda era menino
carrego ainda hoje comigo
aquela tristeza

meu destino

aquela vida que tive
com sonhos de toda sorte
não foi nem sombra de vida
aquela vida

foi a morte

do parto tristeza vida 
que tive e que ainda me tem
não nasceu um menino
suponho que não

nasceu ninguém

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

poemas de certo amor 15

trânsito

essa rua dava mão
agora não dá mais não
antes podia beijo
agora aperto de mão

já foi avenida carinho
estrada do não me deixe
agora é
           estou bem sozinha
           ou
           não que realmente me queixe

agora só tem buracos
e quebra-molas à vontade
que tiram a gente dos eixos
e partem a direção

pra onde a intimidade
que é do entendimento
será que o amor acaba
e se tranca à chave por dentro

eu que sabia os caminhos
não passo por lá mais não
essa rua dava mão
e agora é contramão

sábado, 5 de janeiro de 2013

poemas diversos 8

uma borboleta azul
pousou em teu olhar
e eu fiquei azul

arco-íris de todas as cores
há muitos pijamas pra usar
mas eu dormi azul

nunca mais esquecerei estas cores
azul marinho no olhar
azul contigo no corpo

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

sobre poesia 12

eu sou uma negação

não quero mais produzir os versos que ninguém lerá por se saber perdido nas nuvens brumosas que saltam da página e embaçam o espelho que reflete a imagem que eu cria tão clara mas que só engana na razão oposta da possível angustia de quem se revela um fausto vencido que a partir de agora só escreve ou cala a pura verdade que não se disfarça