terça-feira, 26 de setembro de 2017

poemas após o branco 2

ela disse-me assim

de debaixo 
dos lençóis
você surge 
como um sol
como um lírio num campo de urzes
como um grito num colóquio de vozes
me chamando 
a mim

meu corpo
como um bezerro 
que muge
quer o calor 
da tua pele
e o marrom 
da tua tez 
e a insensatez de querer tudo 
mais uma vez

mas já passa das dez
e o meu tempo 
urge

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

poemas após o branco 1

no metrô

o casalzinho ao meu lado
é jovem e belo
mas um dia envelhecerão

e a beleza
como todas as coisas
também um dia
se esvairá

minha mãe sempre me dizia
Jorge
você já nasceu velho

e eu em resposta rabugento
praguejava
resmungava
abanava com as mãos
e dizia pra ela
eu nunca vou envelhecer