quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

homenagem 3

o Shopping Center Carlos Drummond de Andrade

no Shopping Center Carlos Drummond de Andrade

você pode comprar poesia a preço de atacado
você pode ter poesia a preço de banana

você pode esperar pelo fim do verão
e comprar na promoção a poesia do inverno

você pode tomar café expresso
e comer pão de queijo com gosto de poesia

você pode entrar num concurso
e ganhar aquela poesia que você sempre quis

(para isto é só juntar os cupons
e levar a um posto de trocas)

no Shopping Center Carlos Drummond de Andrade
(com um pouco de dinheiro suado
ou alguma sorte)
você pode ser feliz

homenagem 2

Manuel

criou-me desde menino 
para astronauta 
meu pai

por isso vivo nas nuvens
tenho a cabeça na Lua
sonho com montes de Vênus

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

os 3 elementos

o céu da poesia tem estrelas
e cada poeta russo é uma estrela
brilhando no céu da poesia

eu agradeço a Augusto Boris e Haroldo
pelos precisos mapas estelares
preciosos e exatos como bússolas
que conduziram o explorador sedento
a encontrar água
neste deserto de poesia

o deserto da poesia tem areia
e cada poeta russo é um camelo
atravessando o deserto de poesia

eu agradeço a Boris Haroldo e Augusto
pelos oásis que não viram miragem
onde o navegante errante pode encontrar porto
posto depois de milhas aos milhares
e partir para outros mares
estelares

o mar da poesia tem abismos
e cada poeta russo é um farol
a desviar dos rochedos onde só sobra
a poesia

eu agradeço a Haroldo Augusto e Boris
pelas grandes bocas escancaradas
que podiam beber tudo
mas matavam a sede bebendo desses ares
que como todos os mares
têm como função ser o espelho das estrelas
refletindo constelações e galáxias

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

poemas sobre cachaça

* 

o meu avô me ensinou a ser feliz
cachaça e mulheres

mas eu só aprendi a sofrer
mulheres e cachaça

*

beba com moderação
(peça em 1 ato)

cenário
2 bêbados encostados num balcão

bêbado 1 
E aí Luisinho
uma saideira

bêbado 2 
É claro
uma saideira
uma saideira
uma saideira

bêbado 1 
Então vamos
uma saideira 
uma saideira 
uma saideira
uma saideira
uma saideira

*

Brasil 5 x 1 Inglaterra

cha
ça

chá
bah


sábado, 15 de janeiro de 2011

mulheres 3

poema das mulheres que amei

minha rua tinha muitas casas
cada casa tinha uma menina
minha rua tinha muitas meninas
e cada uma delas foi minha namorada

pra Renata que morava ao lado
fiz uma serenata
com um violão enluarado

de Maria que morava em frente
em uma noite fria
roubei um beijo de repente

pra Jussara que morava em cima
fiz um soneto um dia
com a tristeza em forma de rima

mas Andréia
que no meu bairro nem morava
quando vinha a lua
e empalidecia o negror da rua
ela a ela que o meu coração amava

hoje minha rua tem 1000 prédios
e cada prédio tem 1000 meninas
mas eu que nunca saí do chão
não posso lhes dar o meu coração

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

mulheres 2

moreninha

moreninha
quem te fez tão linda
quem te fez tão graça
quem te fez assim

moreninha
é uma dor infinda
quando você passa
e não olha pra mim

moreninha
foi quem fez as flores
que me fez te amando
que te fez ruim

moreninha
eu morro de amores
e me desprezando
queres ser meu fim

oh poeta
enxuga esse pranto
como eu te adoro
mas não sei contar

oh poeta
eu te amo muito
quando te desprezo
quero até morrer

oh poeta
sei que tu me estimas
mas se te maltrato
o que posso fazer

oh poeta
eu não faço rimas
e se não aprendo
como vou te amar

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

mulheres

hoje os aviões voam sem hélice
mas eu
ainda não posso viver com Alice
hoje
basta apertar um botão
e pode-
          se falar
diretamente com o Japão
                           Ceilão
                           sei lá
                           Sirilanca
Mas eu-                ou qualquer outro lugar ao
não sei não-                                   longe
ainda não posso falar com Solange

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

nosso papel no mundo 2


fronteira é besteira
limite não existe

quem foi que inventou
que o início tem fim

quem foi que espalhou
que o fim tem começo

nasci e vou morrer
mas eu vivo assim

não começo em mim mesmo
nem acabo em mim

nosso papel no mundo


comecei a me confundir com o sistema

primeiro eu comecei a ficar confuso com o sistema

e quando apertava um botão para acionar um mecanismo
eu já não sabia se era eu apertando o botão
ou se era um outro mecanismo me pressionando para eu apertar o botão

depois comecei a sonhar com as facilidades que o sistema promete

comecei a querer viver as promessas do sistema
e comecei a passar por cima dos outros para conseguí-las
e a falar mal daqueles que as conseguiam antes de mim