sexta-feira, 10 de julho de 2015

estar no mundo 18

eu sou um quadrado

quando olho em volta
só vejo cantos

quando ando em círculos
esbarro em quinas

quando olho para os lados
deitado na diagonal

eu só encontro repouso
de um outro ângulo

segunda-feira, 6 de julho de 2015

poemas da caixa de papelão 33

desejo

desejo não é velocidade
mas doce espera
de algo que acontecerá
em uma outra esfera
de tempo
quando não mais houver ferocidade

desejo não termina com um beijo
mas começa
e do começo não se pode ver o fim
mas haverá um fim
e este será quando tudo se consumir

a fome a sede o tempo o juízo
o balé
que se se realiza perfeito
planta mais uma vez o desejo
de um novo desejo

sexta-feira, 3 de julho de 2015

poemas da caixa de papelão 32

encontrei a mulher dos meus sonhos
na feira da quarta-feira

eu vi a cor dos seus olhos
e eram uns olhos de fogo
que me acendiam as bocas
e me chamavam para o amor

puxava um carrinho de feira
em frente à barraca de frutas
o sol ardia como fogo
nas laranjas douradas de fogo

quis me tornar seu escravo
instantaneamente para viver

o amor das entregas
das alegrias doces
da travessia da estrada do inferno
que me consumisse como o fogo do inferno
diante daqueles olhos de fogo

o amor dos maduros
atrás da barraca de frutas
o amor dos cheiros
atrás da carroça de temperos
o amor dos canibais
dentro do caminhão de peixes
o amor das verdades duras
que me consumisse como fogo
tentando apagar o seu fogo

durante muitas semanas
nas feiras das quartas-feiras
eu vi a mulher dos meus sonhos
e desejei os seus olhos de fogo
mas nunca entrei no seu jogo
pra ela
sempre serei um banana

quarta-feira, 1 de julho de 2015

poemas da caixa de papelão 31

olhos de paradoxo

meus olhos têm dois medos
um de noite outro de dia

de dia estão fechados
em eterna agonia

com medo da claridade
que o dia propicia

de noite estão abertos
procurando algum clarão

com medo da escuridão
com que a noite nos vicia