quinta-feira, 30 de maio de 2013

primeiros poemas 8

poema da infinita esperança

nesta rua nesta rua
tinha um bosque
hoje só existem arranha-céus
pessoas amarelas
e cãezinhos tristes

se esta rua se esta rua
fosse minha
eu mandava demolir todos os arranha-céus
e plantava 300 árvores no lugar

sobre o morro sobre o morro
tem um cristo
que passa os dias todos de pés descalços
de camisola
de braços abertos
e de cara amarrada
filho de uma lavadeira
o povo diz que faz milagres

se nos olhasse o cristo
por um segundo que fosse
nós também seríamos felizes morena

terça-feira, 21 de maio de 2013

poemas da caixa de papelão 17

paixão

eles viram meu corpo
preso num crucifixo
e os grandes cravos em minhas mãos

e eles disseram este corpo
tem o mesmo fim amargo
que teve o corpo do Senhor

eles beberam meu sangue
transbordando sobre o vinho
no terceiro dia da paixão

e eles disseram este sangue
tem a mesma cor amarga
que tinha o sangue do Senhor

eles comeram minha carne
dividida entre eles
e multiplicada como o pão

e eles disseram esta carne
tem o mesmo gosto amargo
que tinha a carne do Senhor

eles ouviram meus gritos
meus pedidos e minhas súplicas
e eles nada disseram

e eles nada fizeram
e eu tive a mesma morte
que o Senhor

domingo, 12 de maio de 2013

poemas da caixa de papelão 16

Gregório

Gregório
era um irmão do Libório
que trabalhava num escritório
e ganhava um salário satisfatório

Gregório
amava a filha do Osório
moça bonita de andar vexatório
assunto de todo e qualquer falatório

Gregório
e a tal moça num oratório
trocaram juras de amor compulsório
e se casaram na igreja e cartório

Gregório
otário
vivia aéreo
mergulhado num delírio
de ciúme espúrio

Gregório
num redemoinho giratório
matou a moça no introdutório
enquanto ela amava João Tenório

Gregório
que preso não foi ao velório
descobriu de modo notório
que o amor é puro palavrório