sábado, 25 de maio de 2019

Poemas do Caderno Verde (2007-2010) Ponto desencontro 1


sentado no ponto
fingindo esperar um ônibus
espero que passes
não espero que venhas
apenas que passes

sob um sol sem telhado
e carros que passam
em pensamentos desgovernados
as horas se passam
e não espero que venhas
apenas espero

as luzes dos faróis se abrem
e fecham meus olhos
as luzes das casas se precipitam
e suicidam no vazio
as meninas dos meus olhos

          menina que moras
          no meu pensamento
          a luz de neon
          faz reclame dos teus olhos

sentando no ponto
ressentido de esperar
conto os passos que passam
e as pernas que passeiam
para ter o que contar
         
as pessoas não veem
que há dignidade em esperar
          as pessoas não entendem
mesmo eu sabendo que não virás
e me atiram moedas



A mesma versão aqui

sábado, 11 de maio de 2019

Poemas do Caderno Verde (2007-2010) Declaramar 4


ela me conhece bem
por isso me manipula

ela me conhece muito bem
por isso me usa

ela me apregoa todos os dias
no mercado dos prazeres

me chama de peça rara
e pergunta
quem dá mais quem dá mais

ela inventa formas divertidas
de ficar comigo

ela desiste de viver assim
momentos depois

ela me recupera todos os dias
na pilha de sucata da memória

me chama de peça rara
e me ama
na nossa cama na nossa cama

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Poemas do Caderno Verde (2007-2010) Declaramar 3


ela disse-me assim

de debaixo dos lençóis
você surge
          como um lírio num campo de urzes
          como um grito num colóquio de vozes
          me chamando
a mim

meu corpo
como um bezerro
muge
quer o calor
da tua pele
e o marrom
da tua tez

mas já passa das dez
e o meu tempo
urge