terça-feira, 30 de junho de 2015

poemas da caixa de papelão 30

folhas mortas

quando mulher e homem se separam
as fotografias secretas batidas
(sem que eles soubessem
das suas noites de amor
são reveladas
mas não mostradas

são reproduzidas
nas partes de trás das folhas
mortas que caem das árvores
para a morte das folhas
(que é a mobilidade)

e quando o vento arrasta essas folhas
exibe uma hora o lado da folha (que é folha)
e na outra o outro lado da folha (que é foto)
revelando a nudez da mulher
mostrando as nervuras do homem

nus um diante do outro
eles parecem instantaneamente felizes
na mais profunda intimidade
mas os que passam não param
e nem olham para o chão

e os garis empilham as folhas
e queimam as folhas empilhadas
sem saber ou querer saber
o quanto se pode saber
quando olhamos o lado de baixo das folhas mortas

poemas da caixa de papelão 29

taquicardia

impotente e sem resposta
espero que a parede caia
dançando com o manequim
nu no centro da sala

se os sintomas estiverem corretos
terei que procurar um mágico
pra descobrir que a minha doença
tem cura

segunda-feira, 29 de junho de 2015

poemas da caixa de papelão 28

há uma tristeza em minha alma
não sei dizer o que é
mas diz-se numa palavra
            tristeza

há uma gota em minha face
com gosto de água salgada
de longe se vê como brilha
            uma lágrima

e cá no fundo do peito sinto
um bater estranho às vezes
não é realmente nada
            um defeito

cardiovascular que carrego
desde o meu nascimento
não sei se se pode chamar
            sofrimento

poemas da caixa de papelão 27

folha de jornal não serve pra poesia

tentei escrever poesia
em uma folha de jornal
mas perdi o foco

descarrilei minha caligrafia
enquanto lia e refletia
no que lia
era um anúncio de emprego

tentei escrever um poema
mas a necessidade
bateu mais forte

de modo que perdi o meu tempo
tentando escrever poesia
pessoa enquanto fingia

não querer saber
que precisa-se de balconista
com provada experiência
mas nenhuma em poesia

quinta-feira, 25 de junho de 2015

poemas da caixa de papelão 26

telefone amarelo

se eu tivesse um telefone amarelo
poderia te dizer tanta coisa
que eu não sei dizer

se eu tivesse um telefone amarelo
venceria num discar de olhos
a distância
               inter
                     urbana
que nos distancia

se eu pegasse meu telefone amarelo
que não existe
mas existe em sonho
e se ele funcionasse com no sonho

certamente eu te ligaria todos os dias
para te dizer todas as coisas
que eu queria que você ouvisse

só que eu não tenho um telefone amarelo
e se tivesse talvez até não te ligasse
com medo de ouvir você dizer educada
no momento estou ocupada