domingo, 28 de outubro de 2012

poemas da caixa de papelão 5

levantei muito cedo
e o sol já estava de pé
fui dormir muito tarde
e as estrelas já brilhavam no céu

no outro dia levantei bem mais cedo
e ainda não havia o sol
mas as estrelas brilhavam no céu
e as estrelas brilhavam no céu

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

poemas da caixa de papelão 4

de vocês eu não quero nada

não me dêem o mar não me dêem o sol
que eu não quero ficar triste
quando o calor for tão forte
que arranque ao abismo
cada gota do mar
e as águas voando
mais que nuvens então
serão graves mortalhas
a todo raio de sol

terça-feira, 23 de outubro de 2012

poemas da caixa de papelão 3

na ausência de Mônica

Mônica
a ti conheci como febre
depois do sol
com gosto de água 
salgada ainda

e quando te vi
redemoinhos nasceram em minhas pálpebras
que viviam enterradas em sonhos
beijando meus travesseiros polidos

passei a possuir gestos claros
vontades melhores
encantos em demasia

brotavam estas e outras coisas
de um outro eu
de mim cresciam

e os pés e as mãos de Mônica
narravam aventuras conhecidas pelos sabidos
nas quais os idiotas morriam decapitados

e do pé de pés de Mônica
onde embora não houvesse fruto
nem sementes nem folhas verdes
tudo era polpa tudo crescia

e Mônica
eu te queria

mas morreram gestos
e nasceram estrelas
e sumiram gentes
e Mônica passou a ser distante como a terra
desde as entranhas
desde as amídalas

e em seu conhecimento puro
a terra passou a ser para ela caminho
e solidão para mim vontade e fim
e ela a viver longe de mim

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

poemas da caixa de papelão 2

Jean-Paul e os esqueletos

no meio da tarde
há muito vazia
um louco sentava
no banco da praça

falava sozinho
ou com seus botões
que botões não carecem
de respostas precisas

de longe se via
a estranha figura
sentada falando
com seus esqueletos

tinha um que ficava
à sua direita sentado
fora um dia seu pai
que há muito partira

que lutara na guerra
não na sua guerra
que morrera na luta
não na sua luta

tinha um outro sua mãe
que fazia crochê
com agulhas e linhas 
de um remoto passado

a família reunida
na mesa ela via
e enquanto lembrava
chorava chovia

tinha um no seu colo
que fora sua irmã
que fugira de casa
e até hoje fugia

que com todos deitava
e barato cobrava
e enquanto trepava
chorava chorava

e no fundo da praça
onde a vista não via
tinha um outro chorando
chovia chovia

o seu choro chorado
a todos comovia
e este era ele
mas ele não sabia

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

poemas da caixa de papelão

lua azul
a lua solitária
vagando lá no céu
foi quem me ensinou
eu não sabia

eu li todos os livros
eu vi todos os filmes
ouvi todos os discos
aprendi geometria

mas a lua solitária
só no firmamento
se abriu em um momento
no que eu não conseguia

ver que onde está o homem
a sede é muito grande
a fome é muito grande
e já existia

a lua solitária
passeando no azul
me ensinou a improvisar
como no blues

a lua solitária
vagando ao léu
me ensinou a flutuar 
como no céu

a lua solitária 
sozinha a vagar
foi quem me ensinou
o só também pode brilhar

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

poemas de certo amor 14

um incêndio me queimava os intestinos
sal de frutas jurubeba chá de boldo
beberragem não havia
que acalmasse essa avaria
cármica
a causa desse mal não era orgânica
era orgásmica
destempero
do teu erro
minha azia
você jogou a toalha muito cedo

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

o poeta e os homens 9

sim eu posso compreender os rios e o mar

sim eu posso compreender os rios porque são estrada e corpo numa única pegada
porque nunca passam
porque nunca ficam

sim eu posso compreender o mar
que acolhe um rio em seus braços como se fosse
obrigado a fazê-lo
sem nenhuma pergunta