segunda-feira, 28 de novembro de 2011

poemas de certo amor 2

o faquir

comer vidro
e deitar numa cama de pregos

não dormir
caminhando sobre um rio de brasas

tocar flauta
encantando a serpente encantada

e se você disser que não
morrer

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

poemas de certo amor

o macaco da piada

eu queria apenas te escrever postais
pequeninos simples assim naturais
e que não dissessem muito nada de mais
mas que te provassem que eu não sou dos tias

que não falam
      não escrevem
      não telefonam
      não mandam flores

sábado, 19 de novembro de 2011

letra de música 3

diagnóstico

na prateleira da farmácia
pego o mercúrio cromo
pra passar no machucado
que me lembra de você

ferida aberta que não fecha
corte profundo que não cura
mordida de criatura
dor que se sente e não se vê

pego a gaze esterilizada
para fazer o curativo
me perguntando qual o motivo
desse auê que você fez

a pomada é para as dores
os comprimidos pra vertigem
um bom remédio efervescente
para a minha estupidez

sinceridade dá azia
eu prefiro simpatia
é bem melhor morrer de álcool
é bem melhor morrer de tédio

gruda na pele feito emplastro
essa certeza que envenena
qualquer melhora é impossível
o nosso amor não tem remédio

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

letra de música 2

morro de amores

ali está o Morro do Adeus
onde você disse que me amava
ali está o Morro do Pasmado
onde você me disse adeus

você sempre diz
as palavras erradas
e está sempre certa
nos lugares errados

ali está o Morro da Formiga
onde voce jurou eterno amor
ali está o Morro do Juramento
onde você esmigalhou sua palavra

você sempre diz
as palavras erradas
e está sempre certa
nos lugares errados

são tantos morros nessa Guanabara
tantas descidas por esta cidade
e eu que subi o Morro dos Prazeres
acabei morando no Morro da Saudade

você sempre diz
as palavras erradas
e está sempre certa
nos lugares errados

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

letra de música

pra que roupa?

o meu pé dava um sapato
sensível ao chão
encontrava alguma coisa
macia 
        pisava
encontrava algo duro
pisava não

sapato pisa em tudo

minha pele dava um terno
invisível
           bastava lavar e estava limpo
           nem precisava passar
e aqueles que valorizam as pessoas
por aquilo que elas são
me conheceriam nu

tecido esconde tudo

sábado, 12 de novembro de 2011

poemas sortidos 8

comecei a sentir uma febre
lá pelos trinta
esquisita
            trinta e três

comecei a sentir um calor estranho
e a gostar de
dormir descoberto
e acordava gritando
                           suores
                           noturnos

fui ver a mulher
como me disseram
e ela me disse
isso é coisa feita tem que desfazer
não se explica

voce vai pegar um frango
uma galinha preta
e beber o sangue dela
às três da madrugada
numa encruzilhada
de sete esquinas
e depois fumar um charuto

pega uma galinha preta
escuta o que eu tô te falando
bebe o sangue dela
às três da madrugada
numa encruzilhada
de seis ou sete esquinas
e um charuto cubano
você fuma

usa essa medalha
pra te proteger
não tira nem pra tomar banho
que essa tristeza vai embora 

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

terça-feira, 8 de novembro de 2011

o poeta e os homens 3

transitividade

uma velha caminha
em minha direção

passa por mim e
continua velha

eu sigo
no mesmo caminho

domingo, 6 de novembro de 2011

o poeta e os homens 2

circular do tempo

aquele homem que ali vai
sou eu daqui a vinte anos
visto desta janela
por ele há vinte anos atrás

sábado, 5 de novembro de 2011

o poeta e os homens

atravessando o sinal aqui
estou passando por mim
um outro que não conheci

todas as pessoas são eu
nascidas em diferentes datas
morrendo em diferentes espantos
e vidas que não vivi