quinta-feira, 28 de julho de 2011

escrita automática 6

coisas simples de dizer
simplesmente devem ser ditas

às vezes ser simples é poesia
às vezes é coisa maldita
às vezes
o mal 
dita

ser simples às vezes é tomar um copo d'água
um edifício pode ser simples às vezes

mas sempre
ser simples
é saber que o difícil
nem sempre está além da simplicidade

escrita automática 5

tonto procuro passar pelo vão entre duas paredes que leva ao outro corredor
eu devia empurrar as pessoas a minha volta para ir mais rápido
mas não consigo
elas é que me empurram
e judiam tanto da minha tonteira

gastei todas as minhas energias tentando chegar em terceiro lugar
cristianismo galho de arruda não contar o desejo
o vale tudo para tentar passar pelo vão entre duas paredes que leva à continuação deste corredor

quarta-feira, 27 de julho de 2011

escrita automática 4

eu estava louco louco de pedra
depredando
escrevia e mandava cartas para todos os lugares
                               associação de bairro
                               sindicato dos dentistas
                               liga dos operários mutilados
todas as pessoas todas as revistas todos os jornais
reclamava de tudo do governo
do desgoverno do moderno
do pós-moderno do antigo
do novo no ovo
do povo
eu louco e a loucura me multiplicando
                                  acordava cedo
                                  dormia tarde
                                  escrevia escrevia escrevia
                                  a língua grossa
                                  a língua seca de lamber selos
                                  e eu lambia lambia
                                                  lambia

quando vi saiu uma edição de luxo com a minha epistolografia completa

não entendi nada

terça-feira, 26 de julho de 2011

escrita automática 3

o poeta tenta mudar o mundo

como eu não sabia o que fazer com as mãos
comecei a escrever poemas

como eu não sabia o que é que matava o tempo
os poemas foram ficando mais e mais compridos

como eu não sabia sonhar
comecei a acreditar naquilo que escrevia

e quando comecei a pregar
aquilo que escrevia pelos lugares
as pessoas começaram a acreditar
não apenas para matar o tempo
naquilo que faziam com as mãos

e consegue

segunda-feira, 25 de julho de 2011

escrita automática 2

e eu que não fumava

comprei um maço de cigarros e um isqueiro
daqueles que acendem 1.000 vezes

e fiquei ali na rua
e fiquei ali olhando
sentado no meio fio esperando
fumando um cigarro

sentando no meio fio
fumando outro cigarro
depois do outro
enquanto esperava que alguma coisa acontecesse

algo que me tirasse
daquele torpor em que eu me encontrava
e que me levou a tomar uma atitude daquelas
de fumar um cigarro e depois um outro
até que acontecesse um milagre
e eu paresse de fumar

ou nada acontecesse
e eu tivesse um câncer
finalmente
estivesse pronto
e pudesse ser salvo

domingo, 24 de julho de 2011

escrita automática

o Ministério da Saúde adverte

o telefone tocou
às seis e meia da manhã
e era João
com aquele seu hálito de uísque
talvez cachaça
eu não sei dizer 
    mas alguma coisa estava acontecendo
    e João sabia
    e estava querendo me dizer
    mas não conseguia
pois o álcool ameaçava a sua voz

a televisão ligou
de repente em um canal qualquer
e lá estava João
com aquela cara de cerveja
me passando as notícias
tentando dizer 
    eu quero dizer
    o que está acontecendo
mas não conseguia
com aquela sua voz rouca de cigarro
seu pigarro
e a mão impregnada de nicotina
amarela
segurando o microfone de repórter
com seus dedinhos gordos

amarelo 
é uma cor que lhe cai bem
    azul
    de azul ele não gosta muito
    verde
    verde é para os fracos
    e vermelho
    bem
    vermelho até que é interessante

mas eu vou te dizer
o arco-íris só nasce 
dentro de um pote de ouro
que os anões escondem
quando a chuva cai
longe
para sempre longe
de onde você está
triste
para sempre triste
pois a vida é dura
e o negócio é trabalhar
que já são sete horas
e já enrolei muito
tentando acordar
escrevendo poesia

quinta-feira, 21 de julho de 2011

poema concreto 3

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quarta-feira, 20 de julho de 2011

poema concreto 2

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segunda-feira, 18 de julho de 2011

poema concreto

M E T A M O R F O S E
M E T A B O R F O S E
M E T A B O R B O L E
      T A B O R B O L E
            B O R B O L E 
       T A

domingo, 10 de julho de 2011

primeiros poemas 3

o último tango 

o último som invade o ouvido vazio 
já não é mais permitido fazer barulhos 
passa das dez 

a última nota se pendura na memória 
por meia eternidade 
há uma lei que proíbe qualquer forma de melodia 
passa de dois mil e quinhentos 

agora 
só aos computadores 
é permitido 
pensar 
agir 
ou falar 
aos homens 
pobres máquinas de carne e osso 
só resta mesmo ouvir o barulho das buzinas na madrugada 
e estas 
          por sinal 
não estão afinadas

domingo, 3 de julho de 2011

primeiros poemas 2

o olhar vazio

dentro de boates escuras
no meio dos bares sombrios
o olhar vazio por secura
a alguém perdido procura

no vácuo de uma saudade
no instante de cada cio
caminha o olhar vazio
pelos olhos da cidade

dormindo com cada puta
em nome de sua fome
o olhar vazio se consome
consumindo a sua labuta

(será esse o herói perdido
no ventre de nossas vidas
saudando as suas dívidas
como a um recibo requerido)

o cheiro de éter da vida
chega até nossos narizes
enquanto em espasmos felizes
o olhar vazio suicida

nada é realmente eterno
a não ser este sofrimento
e num buraco de cimento
ele desce até os infernos

com doce sabor de aurora
o clorofórmio do esquecimento
corrói o olhar por dentro
e o vazio é o mundo agora

sexta-feira, 1 de julho de 2011

primeiros poemas

poema das nossas coisas 
cada coisa que eu sonho

é uma lágrima que cai
cada dia que se passa
mais um sonho que se vai

sempre sonho coisas simples
vida
amor
alegria
e quando o sonho se desfaz
já vem nascendo um novo dia